No final do Seu ministério, Jesus começou a falar a Seus discípulos sobre “voltar”.
De fato, além de uma parábola um tanto misteriosa a respeito de um homem
que partiu para uma terra distante para tomar posse de um reino (Lc
19.11-28, mencionada na Páscoa, pouco antes de Sua morte), Jesus não
tinha dito virtualmente nada sobre Sua Segunda Vinda.
Portanto, deve ter sido um tanto surpreendente quando, na noite antes de
Sua morte, Ele falou sobre Sua Segunda Vinda a Seus discípulos. No
Cenáculo, que ficava na colina ocidental de Jerusalém, depois que Judas
partira para buscar os membros do Sinédrio e os soldados que prenderiam
Jesus, Ele falou, pela primeira vez, explícita e compassivamente, aos
onze discípulos fiéis, que estava partindo, mas que “voltaria”:
“Não se turbe o
vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai
há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou
preparar-vos lugar. E quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos
receberei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós
também” (Jo 14.1-3).
No contexto da cultura judaica do primeiro século, Suas palavras teriam
sido reconhecidas como uma conversação de casamento. As cerimônias de
casamento envolviam dois estágios: o noivado e o casamento. No noivado, a
família do noivo pagava um dote e o novo casal trocava votos; desta
forma, eles se tornavam legalmente ligados um ao outro como marido e
mulher. O casamento em si só ocorreria meses mais tarde, numa ocasião
geralmente determinada pelo pai do noivo.
Durante o período do noivado, o casal permanecia separado (Maria, mãe de
Jesus, passou esse tempo com Isabel, na região montanhosa da Judéia, Lc
1.39-45); e tanto a noiva quanto o noivo tinham responsabilidades bem
definidas. O noivo deveria preparar uma casa para sua noiva no meio de
sua família ou de seu clã. Isto é, ele construiria um local onde o jovem
casal moraria, abrigado pelo pai dele.
Na verdade, uma das expressões para casamento nessa cultura era
“acrescentar um cômodo à tenda de seu pai”. Por outro lado, a noiva
deveria manter-se pura e se fazer bonita para seu marido.
O próprio casamento era simples, embora muito celebrado. O noivo ia à
casa de sua noiva e a levava para a casa que ele havia preparado. Ao
longo do caminho, havia uma “parada” cerimonial que incluía grandes
demonstrações de alegria e, dependendo da riqueza das famílias,
características especiais, como músicos e poetas para fazerem improvisos
sobre a beleza da noiva.
Quando a festa de casamento chegava até à casa que o noivo havia
preparado, haveria uma festa de casamento para celebrar a feliz ocasião.
Não havia cerimônia nem troca de votos; isto já havia sido feito por
ocasião do noivado.
A essência do casamento era simplesmente que o noivo iria voltar e
receber sua noiva para que, onde ele estivesse, ela deveria estar
sempre.
Nenhuma ocasião em toda a cultura judaica era causa de maior alegria e
celebração do que um casamento. Assim, é apropriado que Jesus Se visse
como um Noivo que havia assumido os votos de noivado com Seus
discípulos, assegurando-lhes que Ele estava indo para preparar-lhes um
lugar e que certamente voltaria para buscá-los.
É difícil conceber uma maneira mais cativante, amorosa ou confortadora
na qual Jesus devesse ter comunicado a promessa de Seu retorno. Desta
forma, Ele a prefaciou com as ternas palavras: “Não se turbe o vosso coração”.
Mas há uma outra dimensão das palavras de Jesus, pouco apreciada, porém,
tremendamente significativa. A cultura nos dias de Jesus era
basicamente uma cultura de clã. O povo judeu vivia em famílias
extensivas (os clãs), que cresciam à medida que os filhos finalmente
traziam suas noivas para casa.
Além disso, essas famílias extensivas cuidavam atentamente dos seus
membros. Cada clã era dirigido funcionalmente por um patriarca – um “pai
governante” (pater/archos),que
era, em última instância, responsável pela saúde e vitalidade do clã.
Na época do Novo Testamento, Roma governava sobre todo aquele
território; as preocupações políticas e militares não eram deixadas para
os clãs individuais. Mas a vida diária e o bem-estar eram exatamente
funções dos clãs.
Quando os membros de uma família entregavam uma filha como noiva para
ser cuidada por seu novo marido, eles não estavam exatamente
entregando-a ao homem, mas à família dele, seu clã – e, especificamente,
ao patriarca/pai daquele clã. As famílias buscavam clãs que fossem
grandes, fortes e bem estabelecidos – todos eles com um patriarca sábio e
digno de confiança. Uma família poderia entregar alegre e
confiantemente sua preciosa filha a um noivo que tivesse um bom pai.
Os discípulos de Jesus estavam ansiosos para que Ele inaugurasse Seu
Reino prometido, mas Ele falava sempre sobre morrer (cf. Lc 13.31-34).
Eles haviam dobrado os joelhos diante da declaração de Jesus de que era o
Filho de Deus, um com o Pai em essência, mas distinto do Pai em pessoa e
função.
Depois, no cenáculo, Ele falou como um noivo amoroso, fazendo votos de
fidelidade e conforto para Sua noiva. Ele os relembrou do “clã”
infinitamente glorioso do qual eles passaram a fazer parte pelo
casamento, e do caráter eternamente confiável do “clã” do Pai. Pense
novamente sobre estas palavras preciosas, encontradas em João 14.1-3:
“Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. [Ou
seja, toda a história de seu povo tem-lhes ensinado que vocês podem
confiar no Deus Yahweh. Ele é Meu Pai! Mesmo que Eu esteja falando a
vocês coisas que não gostariam de ouvir, vocês já aprenderam a confiar
em Meu Pai, e podem confiar em Mim também.] Na casa de meu Pai há muitas moradas. [Meu Pai governa sobre uma família grande e forte; Ele já provou ser um patriarca sábio e cuidadoso.] Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. [Se
houvesse qualquer motivo para vocês duvidarem de Sua força e sabedoria,
Eu lhes teria dito. Mas, de fato, Ele é digno de sua confiança – embora
algumas coisas que Eu falei a vocês lhes cause alguma preocupação.] Pois vou preparar-vos lugar. [Estou
de partida; e, como um Noivo fiel, prepararei um lar no qual poderemos
habitar abrigados pelo Meu Pai, que é amoroso e poderoso.] E quando eu for e vos preparar lugar, voltarei [Assim como faz todo marido que adquiriu esposa para si mesmo], e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também”.
Essas palavras também são para nós. Também aguardamos o cumprimento
dessa promessa. E, à medida que esperamos, existem muitas coisas que nos
confundem e nos desanimam. Hoje, podemos muito bem, em meio a todo o
caos moral e à aparente falta de significado da história, à medida que
ela se desenrola ao nosso derredor, ponderar e acatar a amorosa promessa
de nosso Noivo celestial, que nos comprou para sermos Sua Noiva, e cujo
Pai, que é todo sabedoria, determinará o momento adequado para a festa
do casamento. (Douglas Bookman - Israel My Glory)